Segunda Campanha em São Caetano de Odivelas, PA

A segunda campanha de coleta de dados fitossociológicos ocorreu em São Caetano de Odivelas, entre os dias 10 e 16 de agosto de 2017. Essa campanha contou com a presença do oceanógrafo e professor Filipe Chaves, os biólogos e pesquisadores Alex Alves e Maria Rita Olyntho, além da participação voluntária da oceanógrafa e pesquisadora Michelle Araujo. E, novamente, contamos com o apoio logístico do Prof. Marcelo Rollnic, presença fundamental para otimizar os tempos de deslocamentos e o acesso às estações de medição, por seu grande conhecimento do estuário de São Caetano de Odivelas.



Equipe da campanha SCO#2: Prof. Filipe, Prof. Marcelo, Alex, Michelle e Rita.

Chegamos em Belém no dia 10, de onde partimos imediatamente para o município de São Caetano de Odivelas, onde chegamos no fim do dia. Essa foi novamente nossa base de campo.


Equipe preparando-se para embarcar

Essa campanha teve um grande diferencial que foi a incorporação dos aprendizados da 1ª campanha. Foi muito útil, por exemplo, a elaboração de uma estratégia de campo antes da viagem. Para isso, estudamos previamente os melhores acessos às estações e registramos essas valiosas informações no GPS.


Os acessos às estações foram marcados previamente.

A partir da observação das imagens de satélite também foi possível programar cada dia de coleta, considerando uma variável muito importante: a maré.  Entre os critérios determinantes para a escolha das estações de cada dia, destaca-se a proximidade espacial entre as estações, buscando a formação de blocos, contendo no mínimo, quatro estações para medição. Essa foi a nossa meta diária! 


Resultado do planejamento de cada dia de campo para a expedição de SCO#2. As cores representam os diferentes dias em que planjamos medir as estações.

A campanha foi realizada em maré de quadratura, que ocorre no período entre a lua cheia e a lua nova. As marés de quadratura são caracterizadas pela menor variação na amplitude da maré, o que facilita a navegação, pois as correntes não são tão fortes, e o acesso às florestas de mangue fica também facilitado, ficando mais próximos da linha d’água.

A variação de maré ao longo do dia também é considerada no planejamento diário, de modo que os blocos que contém estações acessíveis por pequenos canais são deixados para os dias que a maré permanece cheia na maior parte do dia.

O conhecimento dos pescadores e moradores da região também foi fundamental nesta campanha. Um destes parceiros foi o Jonielson Favacho que nos acompanhou em ambas as campanhas e nos alertou que, em geral, chove forte cerca de dois dias antes da lua cheia/nova. 


Jonielson, Michelle, Alex e Rita atracam na margem do rio para acessar as áreas de manguezal.

Agora, consideramos essa informação antes de marcar qualquer campo na região!

Vale ressaltar a importância do conhecimento das pessoas que vivem nesta região há décadas e muitas vezes, a vida toda. Aliar o conhecimento científico ao cotidiano e empírico deve ser o caminho para que possamos compreender os processos que afetam o ambiente e diminuir as barreiras existentes entre a academia e o resto da sociedade.

O primeiro passo quando chegamos às estações é o de marcar os limites da parcela com uma trena métrica. Dentro de cada parcela procura-se enquadrar uma quantidade mínima de indivíduos representativos daquela floresta (pelo menos 30 árvores). Em seguida, com o uso de bússolas, orientamos o enquadramento correto, de forma a criar um retângulo. 


Rita demarcando os limites da estação.

Logo após, fazemos o registro fotográfico da estação.


Michelle registrando o aspecto geral da parcela em uma das estações de medição.

A coleta de dados em campo consiste na medição de parâmetros estruturais da floresta e físico-químicos do solo.  O gênero de cada árvore é reconhecido, assim como a condição (vivo ou morto) de cada tronco. A altura da copa das árvores é medida com um instrumento de precisão, o hipsômetro, assim como o diâmetro do tronco das árvores, medido com uma fita métrica específica – fita de DAP – que fornece o valor do diâmetro diretamente em centímetros.


Filipe medindo a altura de uma Rhizophora.


Rita medindo o diâmetro de uma Rhizophora com a ajuda do Alex.

Medimos também a salinidade da água no sedimento, o pH e Eh, com uso de equipamento específico para este fim.


Michelle usando equipamento para medir a salinidade da água coletada no sedimento.


Sedimento encharcado na estação 59, com equipamento de medição em primeiro plano.

O levantamento de dados em campo é complementado pela realização de vistorias em estações pré-definidas. Nessa atividade fazemos o reconhecimento visual de características do mangue, como o gênero predominante, a densidade da floresta e seu porte.

Mesmo conhecendo um pouco melhor a área, confirmamos que a natureza do trabalho nos manguezais traz desafios constantes. Mais uma vez encontramos sedimento muito lamoso e úmido, dificultando bastante a caminhada.


Michelle e Alex caminhando por cima de troncos para evitar o deslocamento no sedimento lamoso da parcela 59.

Outro desafio é acessar os manguezais, seja por que estes desenvolvem rizóforos por toda margem seja porque a própria floresta apresenta uma alta densidade de troncos. 


Margem tomada por rizóforos.


Dificuldades de acesso na estação 92 devido à grande quantidade de troncos e rizóforos.

Em alguns casos tivemos dificuldade para medir a salinidade, pois era preciso cavar bastante para que a água minasse do sedimento. Nessas situações, o esforço era tanto que em algumas estações só foi possível realizar uma medição, ao invés das cinco que estavam previstas. 


Único registro de salinidade para estação 92. Profundidade do buraco: 65 cm.

Após cinco dias de trabalho inteiramente dedicados à obtenção de dados em campo, 22 estações foram medidas. 

Mapa destacando em vermelho o trabalho realizado em SCO#2.

Nos dias de dedicação a essa campanha, desde os estreitos canais até a ampla foz do estuário, fomos agraciados com belas paisagens, proporcionadas pela fauna e flora local de um dos manguezais mais exuberantes que já vimos. 


Dossel formado por Rhizophora sp., visto do interior da floresta.


Emaranhado de rizóforos à beira do canal.


Panorama típico dos manguezais de S.C. de Odivelas: Florestas dominadas por Rhizophora sp. com dossel de até 30m de altura.


Avicennia fixada em trecho alagado do rio.

Guarás: Avifauna local.

Garça-branca em primeiro plano com manguezal ao fundo.


Águas espelhadas de São Caetano de Odivelas.


Fim de tarde em São Caetano de Odivelas.