Segunda campanha em Soure, PA

A segunda campanha para medição dos parâmetros de estrutura da vegetação no Soure, Ilha do Marajó, PA, ocorreu entre os dias 24/11/17 e 01/12/17. Participaram desta expedição os oceanógrafos Filipe Chaves, Michelle Araújo e os biólogos Marciel Estevam e Alex Alves.

As medições foram realizadas em 18 estações distribuídas em uma extensa faixa litorânea denominada “Setor 1” da face oeste da Ilha de Marajó, em Soure. Nesta expedição, como em outras, foi necessário o suporte de diversos colaboradores para que a expedição fosse bem sucedida. 


Visão geral da área de estudo em Soure.


Este suporte incluiu a locação de barcos de moradores locais próximos a cada igarapé, o serviço de transporte de material e equipamento de um lado ao outro do Igarapé Cajuuna e a locação de motocicleta para agilizar o acesso para o Igarapé Turé.

Estes contatos só puderam ser viabilizados com a ativa colaboração dos guias locais Paulo “Caranguejeiro” e Nilson Cardoso, cujo conhecimento e disposição foram fundamentais para que as estações pudessem ser acessadas e a floresta medida eficientemente!

                Paulo e Nilson nos acompanharam por toda a viagem, guiando as embarcações pelos melhores trechos, abrindo caminho na mata para que pudéssemos acessar as estações e medindo os parâmetros estruturais da floresta junto à equipe técnica.



Equipe técnica completa, em ordem de proximidade da proa: Marciel, Alex, Michele, Filipe, Paulo e Nilson


Soure não é acessível diretamente por via aérea, sendo necessário partir da cidade de Belém. Assim, desembarcamos em Belém no dia 24/11 e pernoitamos na cidade, realizando os preparativos finais para a partida para Soure, como o planejamento de campo do próximo dia. Na manhã seguinte, seguimos, por volta das cinco da manhã, para o Terminal Hidroviário de Icoaraci, pois o único horário disponível da embarcação que realiza a travessia da capital para o terminal de Camará, na Ilha de Marajó, é o das seis da manhã.

                               A travessia foi feita a bordo de uma grande embarcação que transporta pessoas e veículos entre Belém e Camará. O tempo de travessia é estimado em 3 horas! Em seguida, pegamos a estrada até a cidade de Soure, passando por uma travessia de ferry-boat entre o município de Salvaterra e Soure.

Translado entre Belém e Soure.

Toda a logística para esta expedição foi planejada a partir da experiência dos campos anteriores e do reconhecimento feito na região por Mário Soares e Gustavo Estrada, em agosto de 2017.


 

Equipe da Expedição de Reconhecimento de Soure realizada em Agosto de 2017.


Uma vez instalados em Soure, partimos para realizar as atividades de medição da vegetação na tarde do mesmo dia. Escolhemos visitar as estações que não necessitavam de embarcação para serem acessadas.

Marciel medindo o DAP de um indivíduo de Rhizophora no primeiro dia de trabalho de campo.


Diferentemente da área de estudo São Caetano de Odivelas, uma formação costeira tipicamente estuarina, Soure não dispõe de um sistema de rios interconectados por um curso d’água principal que deságua no mar ou uma conformação de foz ou delta. Em Soure, a faixa costeira é entrecortada por igarapés, “braços” de água doce, localizados em planícies de marés, isto é, canais de água doce sob a constante influência das marés e nas margens dos quais, na proximidade com o mar, ocorre a vegetação de manguezal.


Setor 1 de Soure com a localização dos Igarapés e estações visitadas para medição de parâmetros estruturais.

Essa conformação da costa definiu a estratégia de campo para acessar as estações de medição. Cada dia de campo foi dedicado a um igarapé diferente, exigindo, portanto, uma logística específica para cada região.

As atividades em campo foram as mesmas de expedições de medição anteriores que abrangem a medição dos parâmetros estruturais: DAP, altura, identificação dos gêneros e número de troncos; e a medição das variáveis físico-químicas no sedimento: pH, Eh e salinidade.

                A Região Norte, onde localizam-se todas as áreas de estudo do Projeto Costa Norte, tem como característica costeira marcante a grande variação da amplitude de maré. O comportamento da maré, portanto, é sempre determinante da estratégia de campo: horários de partida e retorno e definição das estações a serem realizadas dia-a-dia.

No Soure, não foi diferente. O comportamento da maré e as amplitudes previstas foram determinantes para a escolha dos dias em que cada igarapé seria visitado para percorrer as estações a serem medidas.

O fato da área ser setorizada por igarapés tornou necessário um maior nível de organização para realizar a logística de horários, contratação de serviço de travessia de moto e barcos com diferentes colaboradores. Isso aumenta a chance de ocorrerem mais surpresas e desta vez não foi diferente: No dia 28/11, quando fomos utilizar a embarcação para adentrar o igarapé, a mesma não estava em boas condições de manutenção e apresentava rachaduras no casco! Foi preciso um trabalho contínuo de retirada da água para que as medições e vistorias fossem realizadas, mas estávamos preparados com baldes para retirar o excesso de água e ferramentas como borrachas isolantes para reparar tais rachaduras.


Rachadura encontrada na embarcação.

Um aprendizado importante que pudemos tirar da expedição de reconhecimento, realizada em agosto de 2017, foi ter conhecimento do risco de ficarmos presos entre faixas de praia divididas pela embocadura de um igarapé devido a altura da maré no momento do nosso deslocamento. Por exemplo, foi necessário uma travessia de cerca de 5 km com motocicleta ou bicicleta para cruzar o litoral desde o Igarapé Cajuuna até alcançarmos a embocadura do Igarapé Turé.



Professor Filipe carregando o equipamento com o uso de uma bicicleta e indivíduos de Rhizophora, em segundo plano.


Imagem de satélite contendo o percurso realizado pela equipe para o acesso do Igarapé Turé

Ainda assim, os períodos de maré baixa nos surpreenderam, impondo alguns desafios. Na visita ao Igarapé Cajuuna, por exemplo, no início do dia, foi necessário empurrar a embarcação sobre a areia até o curso d’água. Um esforço e tanto para a equipe! Isto ocorreu porque o Paulo, nosso guia local, havia acordado com pescadores locais que a embarcação já estaria no canal antes que chegássemos, pois a maré ainda estaria baixa, mas quando chegamos, nos deparamos com a embarcação ainda na areia...


Equipe transportando a embarcação para o curso principal do canal.


Fizemos uso prévio, em laboratório, de imagens de satélite para identificar os melhores acessos para as estações e reconhecimento das fisionomias de mangue. Estas imagens permitiram que identificássemos os principais cursos d’águas, igarapés e estradas por onde realizar nosso deslocamento. Uma das limitações dessa metodologia, no entanto, é a baixa resolução das imagens, o que dificultou o reconhecimento remoto das vegetações de mangue, cabendo a equipe, com a presença de campo, identificar se os pontos marcados pertenciam à vegetação de mangue ou não.

Em campo, identificamos que muitas estações, principalmente aquelas distantes da foz e mais internas ao continente, eram compostas majoritariamente por vegetação associada ao mangue como aninga, samambaias, corticeira entre outros grupos.

Estação 51 com presença significativa de vegetação associadas como aningas (bambus com espinhos) e samambaias.


A presença desta vegetação associada nas estações de medição representou um desafio, pois foi necessário registrar sua presença e medir seus parâmetros estruturais, similar ao que é realizado com as espécies de mangue. Não tínhamos práticas em identificar tal vegetação, mas utilizamos características como o tipo de folha e tronco de árvore para classificar esta vegetação variada em grupos distintos. Com este método, conseguimos executar as tarefas sem perda de tempo.

               Como de costume, os desafios puderam ser superados e pudemos ser agraciados com belas paisagens, belas imagens da flora e da fauna e pela amistosa e interessante interação com as comunidades locais do Marajó!


Vistoria no Igarapé Turé enquanto o canal permanecia com baixo volume de água.


Travessia do litoral entre os Igarapés de Cajuuna e Turé.


Colaboradores Paulo e Nilson retornando para casa após um dia de atividades.


Equipe repousando após o almoço no Igarapé do Céu. Ao fundo, mistura de vegetação associada junto a florestas de mangue.


Formação de Rhizophora no Igarapé do Farol (tambpem conhecido como Igarapé Urucí)